ANA



Olhou-se no espelho pela décima vez, e pela centésima escovou o cabelo, em vão, sem necessidade. A única coisa que conseguira foi fazer com que mais fios se espalhassem pelo chão. Sua pele pálida parecia refletir a luz do sol, fazendo-a parecer um pouco mais desgastada do que estava.

                Agasalhou-se como de costume, talvez um capuz a fizesse menos difícil de olhar. Ela sabia que era pela mudança de expressões que as pessoas faziam ao vê-la passar. Escondeu os locais das constantes invasões do scalp número 22. Tomou água devagar, embora seus lábios estivessem secos, até consumir aquilo era difícil pra ela, tão chato quanto uma tortura.

Oh Ana, sua própria companhia, de si mesma e de Maria, que diferente dela já se achava bonita. A Ana não, Ana de agora era um fantasma da Ana do passado, e antes de conhecer a Adria ( que ela chamava carinhosamente de ANA), a Ana era feliz e não sabia. Ela não se achava forte como Maria, mas o que ela não sabia é que Maria mentia, pra sim mesma. Mas era uma mentira tão bonita que até ela mesma acreditava.

                Ana rejeitou o café pela décima vez, para aumentar ainda mais a aflição da mãe, se a água era difícil imagina algo mais sólido, ela não podia, ela não queria. Ela só queria ser ela, a Ana alegre que era não tão antigamente, com o seu peso ideal, com seu cabelo decente, com os seus amigos, que nem eram tantos agora.

                Ana afastou todos, aquilo não era viver. E se pra ela, ela não vivia, não queria ninguém que pensasse ao contrário junto de si. E agora ela estava saindo de casa mais uma vez, para mais um dia de ANA, de Maria, e de Adria, sua nova amiga na Quimioterapia.

Francielly Macedo (aka Flor Fria)

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